Publisher's Synopsis
Quão alto e até quando se pode gritar enquanto se acredita que a alternativa silenciosa não pode ser outra coisa senão o insuportável prenúncio da morte da esperança?
Zaratustra, a voz mais prestigiada e influente da atualidade, calou-se misteriosamente no início de uma palestra. Mil responsabilidades passam a pesar sobre Assis, chefe de sua assessoria, que deverá lidar com a crise silenciosa de Zara. Frente à pressão de patrocinadores, do público e de seus próprios ideais, pois acredita no trabalho que vem realizando com Zara, Assis decide usar de sua familiaridade com Zara e sua filosofia e escreve um texto para explicar o ocorrido do primeiro silêncio, publicando-o fazendo-se passar por Zaratustra. Com a continuidade do silêncio de Zara e para preservar sua relevância no debate público, Assis recorre mais vezes à farsa na internet, ampliando-a, enquanto lida nos bastidores com fãs, financiadores, críticos, desconfianças, a expectativa para a palestra mais importante do ano e o inadmissível e ainda inexplicado silêncio de Zaratustra. A sustentar cada vírgula falseada, infla-se no ego de Assis a convicção de que tudo se faz em nome da esperança necessária para que a humanidade atravesse seu momento mais sombrio, de onde só podem resultar a mais brilhante superação ou o mais lamentável desfecho."Eu só teria mesmo uma vantagem ao consultar Zara antes de publicar o texto: poderia pedir sua opinião, ver se eram mesmo palavras que sairiam de sua boca. Com a ilusão inflada, poderia até pensar em convencer Zara a redigir um texto próprio, fazê-lo um texto autêntico. Mas o quê! Pediria isso apenas para ganhar em resposta seu silêncio e seu sorriso debochado? No fim, precisei confiar que minhas palavras seriam boas atrizes. E foram. A mais sábia das sabedorias também pode ser imitada e soar convincente. Assim falo eu." (ASSIM CALOU ZARATUSTRA, p.29) "Assim calou Zaratustra" é uma obra marcadamente intertextual; um forte flerte da Literatura com a Filosofia; um texto que desponta em diversas questões contemporâneas, como fake news, cultura do cancelamento, era digital, o poder e a forjabilidade de discursos, a imersão em cenários com teores cada vez mais apocalípticos. Além disso, também é uma obra com suas marcas estéticas, como a narração sarcástica de Assis trazendo o leitor como personagem-testemunha de seus atos. "É avançada a hora da humanidade. Avançamos num relógio no qual o dia não vira. À meia-noite, tudo acaba. Está escuro, está tarde e o tempo acelera. Ouvimos o tic-tac dos ponteiros, o giro das engrenagens. Vemos os segundos e seus milésimos preciosos escoarem sem que haja mãos para contê-los. Todas essas são as simples constatações. Terríveis e simples. Como constatar que nosso mundo está em chamas. Também pode ser relativamente simples entender quem deu corda no relógio, quem fomentou as chamas que nos consomem a todos igualmente. Terríveis, simples e majoritariamente inócuas constatações. O que nos dizem, afinal, sobre como parar o relógio ou fazê-lo retroceder? O que nos dizem sobre onde conseguir água suficiente para extinguir o fogo, ar suficiente para limpar os céus?" (ASSIM CALOU ZARATUSTRA, p.331)